segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

ATENÇÃO

Peço a compreensão dos nossos leitores, tendo em vista que entrarei em recesso durante 15 dias, nos quais não acontecerão novas postagens. Logo que termine esse período, o blog voltará a sua normalidade.

Agradeço pela compreensão,

Ivanaldo Xavier

"Integração entre cérebro e máquinas vai influenciar evolução", entrevista com Miguel Nicolelis


Miguel Nicolelis é um dos pesquisadores brasileiros de maior prestígio. Pioneiro nos estudos sobre interface cérebro-máquina, suas descobertas aparecem na lista das dez tecnologias que devem mudar o mundo, divulgada em 2001 pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). Em 2009, tornou-se o primeiro brasileiro a merecer uma capa da Science. Na quarta-feira, foi nomeado membro da Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano.

Ao Estado, Nicolelis falou sobre o impacto da neurociência no futuro da humanidade. Criticou de forma contundente a gestão científica no país, especialmente em São Paulo. Também questionou os critérios - marcadamente políticos - que teriam norteado a escolha do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.

Leia a entrevista:

- O que as interfaces cérebro-máquina devem proporcionar no futuro?

No curto prazo, penso que as principais aplicações serão na medicina, com novos métodos de reabilitação neurológica, para tratar condições como paralisia. No médio, chegarão às aplicações computacionais. Não usaremos mais teclados, monitores, mouse... o computador convencional deixará de existir. Vamos submergir em sistemas virtuais e nos comunicaremos diretamente com eles. No longo prazo, o corpo deixará de ser o fator limitante da nossa ação no mundo. Nossa mente poderá atuar com máquinas que estão à distância e operar dispositivos de proporções nanométricas ou gigantescas: de uma nave espacial a uma ferramenta que penetra no espaço entre duas células para corrigir um defeito. E, no longuíssimo prazo, a evolução humana vai se acelerar. Nosso cérebro roubará um pouco o controle que os genes têm hoje sobre a evolução. Daqui a três meses, publicarei um livro em que comento esses temas.

- O que o sr. chama de curto, médio, longo e longuíssimo prazo?

Curto prazo são os próximos anos. Médio prazo, as próximas duas décadas. Longo prazo, o próximo século. Longuíssimo prazo, milhares de anos.

- Como andam suas linhas de pesquisa na medicina?

Estamos avançando rapidamente no exoesqueleto (um dispositivo que dá sustentação ao corpo de uma pessoa paralisada e é capaz de se mover obedecendo ao controle da mente). Outra linha de pesquisa importante é Parkinson. Publicamos um artigo na Science no ano passado. Estimulamos com eletricidade a medula espinhal de ratos com uma doença semelhante ao Parkinson e conseguimos reverter o congelamento motor característico da doença.

- Ainda precisaremos dos sentidos para dialogar com sistemas computacionais?

Vamos publicar um trabalho em breve descrevendo o envio do sinal de uma máquina diretamente ao tecido neural de um animal, sem mediação dos sentidos: na prática, criamos um sexto sentido. Vai ser uma novidade explosiva, mas não posso dar mais detalhes, pois o artigo ainda não foi publicado. Mas posso afirmar que a internet como conhecemos hoje vai desaparecer. Teremos uma verdadeira rede cerebral. A comunicação não será mediada pela linguagem, que deixará de ser o único ou o principal canal de comunicação.

- Quais as implicações antropológicas e sociológicas no longo prazo?

Costumo dizer que será a verdadeira libertação da mente do corpo, porque será a mente que determinará nosso alcance e potencial de ação na natureza. O que definimos como ser mudará drasticamente no próximo século.

- O que o sr. acha da política científica brasileira?

Está ultrapassada. Principalmente a gestão científica. Foi por isso que eu escrevi o Manifesto da Ciência Tropical. O talento humano é sufocado por normas absurdas nas universidades. Devemos ter uma carreira para pesquisadores em tempo integral e oferecer suporte administrativo profissional aos cientistas. Mas aqui no Brasil há a cultura de que, subindo na carreira científica, o último passo de glória é virar um administrador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) ou da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Uma tragédia.

- O sr. afirmou diversas vezes que a ciência precisa ser democratizada.

Sem dúvida. É uma atividade extremamente elitizada. Não temos a penetração popular adequada nas universidades. Quantos doutores são índios ou negros? A ciência deve ir ao encontro da sociedade brasileira. Há bem pouco tempo, a ciência ainda era uma atividade da aristocracia brasileira.

- Como o sr. se vê na Academia?

Sou um pária. Não tenho o menor receio de falar isso. Sou tolerado. Ninguém chega para mim de frente e fala qualquer coisa. Mas, nos bastidores, é inacreditável a sabotagem de que fomos vítimas aqui em Natal nos últimos oito anos. Em 2010, na avaliação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), tivemos um dos melhores pareceres técnicos da área de biomedicina. E nosso orçamento foi misteriosamente cortado em 75%. Pedi R$ 7 milhões. Recebemos R$ 1,5 milhão. As pessoas têm medo de abrir a boca, pois você é engolido pelos pares.

- Qual é o futuro dos jovens pesquisadores no país?

Atualmente, eles têm uma dificuldade tremenda para conseguir dinheiro, porque não são pesquisadores 1A do CNPq. Você precisa ser um cardeal da academia para conseguir dinheiro e sobressair. Cheguei à conclusão de que Albert Einstein não seria pesquisador 1A do CNPq, porque não preenche todos os pré-requisitos - número de orientandos de mestrado, de doutorado... Se Einstein não poderia estar no topo, há algo errado. Até agora, ninguém teve coragem de enfrentar o establishment da ciência brasileira. Minhas críticas não são pessoais. Quero que o Brasil seja uma potência científica para o bem da humanidade. As pessoas precisam ver que a juventude científica está de mãos atadas. Devemos libertar esse povo.

- O sr. tem uma opinião bastante crítica sobre a política científica no país. Mas, na eleição, manifestou apoio público a Dilma. Por quê?

Porque a outra opção era trágica. Basta olhar para o Estado de São Paulo: para a educação, a saúde e as universidades públicas. Eu adoro a USP, onde me formei. Mas a liderança que temos hoje na USP é terrível. A Fapesp é uma joia, um ícone nacional, reconhecida no mundo inteiro. Mas isso não quer dizer que as últimas administrações foram boas. Temos de ser críticos. Esta última administração, em especial, foi muito ruim. A Fapesp está perdendo importância. Veja só: a Science (no artigo publicado há algumas semanas sobre a ciência no Brasil) não dedicou uma linha à Fapesp.

- Como o sr. avalia o governo Lula?

Apoiei e apoio incondicionalmente o presidente Lula, porque vivemos hoje o melhor momento da história do país. A proposta global de inclusão do governo Lula - e espero que será a mesma com a Dilma - é aquela em que eu acredito. Contudo, detalhes devem ser corrigidos. Admiro o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Sergio Rezende. Tivemos grandes avanços com a criação dos INCTs e dos fundos setoriais. Mas o ministro não enfrentou a estrutura. Em oito anos, nunca fui chamado para dar uma opinião no ministério ou para apresentar os resultados do projeto de Natal. Sei que outros cientistas, melhores que eu, também não foram chamados. Mas fui chamado pelo Ministério da Educação. O ministro (Fernando Haddad) é o melhor que já tivemos.

- O que o sr. achou da escolha de Aloizio Mercadante para o MCT?

Estou curioso para saber qual é o currículo dele para gestão científica. Fiquei surpreso com a indicação, mas não o conheço. Não tenho a mínima ideia do seu grau de competência. Mas não fica bem para a ciência brasileira um ministério tão importante virar prêmio de consolação para quem perdeu a eleição. Não é uma boa mensagem. Mas talvez seja bom que o futuro ministro não seja um cientista de bancada, alguém ligado à comunidade científica. Assim, se ele tiver determinação política, poderá quebrar os vícios. (Alexandre Gonçalves)

Fonte: O Estado de SP

País planeja laboratório oceanográfico em alto-mar


O Brasil tem uma ambiciosa proposta de fincar um laboratório oceanográfico na mais remota fronteira marítima do país e, com isso, garantir o domínio territorial sobre uma área em que as riquezas naturais escondidas vão além do petróleo na camada do pré-sal.

No limite da plataforma continental, a 350 milhas náuticas (648 quilômetros) da costa, o potencial de reservas minerais é imensurável, segundo uma fonte militar revelou ao Globo.

Com a implantação de um centro de pesquisas em alto-mar e o investimento em satélites, embarcações de patrulhamento e submarinos, a estratégia que vem sendo esboçada reservadamente pelo governo Dilma Rousseff é no sentido de afastar investidas de estrangeiros, como americanos, russos, alemães e japoneses, nos cobiçados mares do Atlântico Sul.

O instrumento de pesquisa, cujo projeto envolve os ministérios da Defesa, da Ciência e Tecnologia, do Meio Ambiente e investidores privados brasileiros, passará a ser usado para marcar a presença do Brasil dentro e fora das 200 milhas (370 quilômetros) hoje delimitadas.

É o mesmo espírito que move a ocupação de pesquisadores do minúsculo arquipélago de São Pedro e São Paulo, a 1.010 quilômetros de Natal (RN). Os cientistas atualmente se revezam a cada 15 dias no arquipélago.

A localização e o projeto da plataforma fixa que dará suporte ao laboratório ainda estão em fase de elaboração. A determinação de custos e de prazo para a construção do equipamento é a próxima etapa, e a ideia é formalizar um consórcio com a participação do governo, da Petrobras e de parceiros da industrial nacional para custear o projeto.

Além das pesquisas direcionadas à segurança ambiental, ao desenvolvimento de tecnologia naval e à biotecnologia, já há entendimento para que o laboratório tenha um observatório submarino, cujas imagens estariam disponíveis ao público pela internet.

Exploração brasileira tem respaldo das Nações Unidas

No limite de 200 milhas mar adentro, entra na pauta de prioridades a descoberta de petróleo no pré-sal. Os mais preocupados citam a volta da Quarta Frota dos Estados Unidos, país atento ao fortalecimento de uma frota militar na região. Um oficial da Marinha lembra a "incrível coincidência" entre o anúncio do petróleo na camada pré-sal e a decisão dos americanos de deslocar para o Caribe a Quarta Frota - divisão da Marinha americana responsável por operações no Atlântico Sul.

O faturamento potencial das reservas do pré-sal, considerando as atuais estimativas de 40 bilhões de barris, com o preço médio unitário de US$ 100, alcançaria US$ 4 trilhões.

A ideia, segundo revelou ao GLOBO alto funcionário do governo, é "cravar os pés brasileiros" em um eldorado cuja soberania nacional pode ser questionada no futuro. A autoridade lembra que, nos limites oceânicos, prevalece a ocupação permanente para fins de domínio territorial.

- Vamos pegar o limite da área de disputa, antes de outros. Eles vêm aqui com a Quarta Frota e nós vamos com o laboratório marítimo, muito mais simpático - afirma.

O Brasil já conquistou, junto às Nações Unidas, respaldo para explorar científica e comercialmente uma vasta área oceânica, que alcança 350 milhas náuticas, entre a fronteira com a Guiana Francesa e a divisa com o Uruguai. E disputa outros três trechos estratégicos, um ao sul e outro ao norte das reservas do pré-sal, inclusive na ainda misteriosa costa do extremo sul do país. O terceiro ponto segue em direção ao Mar do Caribe.

A questão é que, quando o pré-sal estiver a pleno vapor, o Brasil estará entre os maiores fornecedores de petróleo do mundo, podendo chegar ao nível do Oriente Médio. Passará também a ser um ator relevante no setor de energia.

Assim, exercerá influência sobre as nações produtoras e terá de negociar pesadamente com os grandes consumidores, onde se inserem os americanos.

- Estamos trabalhando sobre um cenário de 30, 40 anos. Nossa preocupação, no caso do pré-sal, não é com uma ameaça imediata. Não importa o que aconteça no futuro, temos de estar preparados para a adversidade - esclareceu uma fonte da área militar.

Em outra frente, o Brasil se prepara para disputar novos espaços para entrar firme em mineração no solo oceânico, na área fora do pré-sal e após as 200 milhas, entre a África e a América do Sul.

As Nações Unidas trabalham em uma normatização para a exploração dos solos marinhos na faixa entre os dois continentes, hoje ocupada por embarcações da Rússia, do Japão e da Alemanha.

- A América do Sul e a África podem interferir nas decisões da ONU sobre o Atlântico Sul - diz essa fonte.

Um das preocupações é que, com a autorização dada aos países para explorar minérios, serão montadas estruturas no caminho das rotas marítimas comerciais brasileiras, o que provocará aumento de custo e obrigará navios a desviarem o curso. Mais um item a encarecer o frete.

- O Atlântico Sul é a região do oceano menos estudada do planeta e 92% do nosso comércio exterior passam por lá. Essa base científica é fundamental e vale a pena, não importa o custo - avalia Jorge Ramalho, especialista em relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB).

Plataforma será patrulhada por submarino nuclear

No ano passado, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, iniciou uma ofensiva junto aos países da Costa Oeste da África, para que seja deslanchada uma ação conjunta que beneficie os dois continentes na negociação no âmbito da ONU.

Jobim ofereceu a Marinha brasileira para ajudar os africanos a mapearem sua plataforma continental e estabelecer seus próprios limites.

Para assegurar o controle da plataforma brasileira, serão usados um submarino convencional e um submarino nuclear, que pode ficar meses submerso com uma velocidade maior. Também serão comprados mais navios de patrulha oceânica e construído um sistema de satélite para monitorar a chamada Amazônia Azul. (Roberto Maltchik e Eliane Oliveira)

Fonte: O Globo

Mercadante reforça peso da agenda ambiental no MCT


Titular de Ciência e Tecnologia quer criar incubadoras de empresas
 na Amazônia

A agenda ambiental subiu de patamar nas prioridades do Ministério da Ciência e Tecnologia na gestão recém-inaugurada por Aloizio Mercadante. Está em gestação a criação de um Conselho de Biodiversidade, a mudança climática ganhou destaque e o Brasil pode ser pioneiro em laboratórios marinhos em alto mar. Na Amazônia, a estratégia é criar parques tecnológicos e incubadoras de empresas que tenham a biodiversidade como insumo - a intenção é agregar valor aos bens da floresta.

A marca que o novo ministro pretende imprimir ficou clara em seu discurso de posse. Mercadante mencionou várias vezes que o futuro está na "economia verde". O sinal mais evidente de que ele realmente acredita que a sustentabilidade ambiental é um dos eixos do futuro surgiu ao convidar Carlos Nobre, o mais famoso climatologista brasileiro, para a Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped).

Nobre, que trabalha no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordena a Rede Clima - que agrupa 60 instituições e mais de 470 pesquisadores -, aceitou. Em poucos dias estará no comando de políticas e programas de desenvolvimento científico para oceano, Antártica, biodiversidade, biotecnologia, nanotecnologia, meteorologia, hidrologia e, evidentemente, mudança climática.

Um dos primeiros passos é formar um centro de prevenção de desastres naturais com base nos cenários traçados pelo supercomputador que acaba de ser inaugurado no Inpe, o terceiro maior do mundo em meteorologia. "Vamos ampliar para o Cerrado o mapeamento que já fazemos para a Amazônia", disse o ministro ao Valor.

Mas melhorar o controle sobre os ecossistemas é só um dos usos do novo computador. Ele será fundamental na previsão meteorológica e na prevenção de desastres naturais, área em que Nobre já vem trabalhando há algum tempo. O mapa de áreas de risco de inundações e deslizamentos de terra indica 500 pontos e cinco milhões de pessoas expostas. Há estados que têm este mapa detalhado, mas outros não. A intenção é prosseguir com os estudos, cruzar com a previsão meteorológica do Inpe e antecipar a prevenção de desastres.

Outra diretriz será, claro, a Amazônia. "O Brasil é o G1 da biodiversidade mundial", diz o ministro. "Temos que desenvolver instrumentos para transformar esta biodiversidade em desenvolvimento econômico." A contenção do desmatamento tem sido um trunfo, mas é hora de criar empregos de qualidade na região, diz ele.

Outro ponto é valorizar os centros de pesquisa da região como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), de Manaus, o Museu Emilio Goeldi, em Belém, ou o Mamirauá, em Tefé, no Amazonas.

"A primeira coisa que estou fazendo é criar uma coordenação, porque ela não existe", explica. "Cada um trabalha em seu projeto, na sua área, seu bioma, sua dinâmica, mas não existe um conselho que coordene, planeje ações, junte forças", prossegue. "Não é só investir na pesquisa da biodiversidade, mas também no desenvolvimento da economia verde. É isto que trará perspectivas econômicas."

Em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente, o MCT pretende iniciar um inventário da biodiversidade do país.

Mercadante assumiu um Ministério que cresceu de estatura nas gestões anteriores. Em 1987, o Brasil formava cinco mil mestres e doutores, um número que hoje bate em 50 mil. Há uma oferta de 155 mil bolsas de estudo. O desembolso da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) de ciência e tecnologia era de cerca de R$ 475 milhões em 2002 e foi de R$ 4 bilhões em 2010. Há 122 institutos nacionais de ciência e tecnologia no país e dentro do ministério são 18 institutos de pesquisa, vários considerados centros de excelência.

"Agora falta criar a carreira de pesquisador nas universidades", imagina. Outro passo é articular a vida acadêmica e o mundo da produção, duas pontas que pouco se juntam.

Mercadante quer fortalecer o que ele chama de "sociedade do conhecimento". Um dos alicerces é criar o que chama de "comitês de busca e atração" para seduzir os talentos brasileiros que foram viver no exterior durante a recessão. Ele estima que há 3 mil brasileiros dando aula nos Estados Unidos. "Isto é parte da nossa Inteligência. Muita gente foi embora por falta de condições nos anos de baixo crescimento, mas acho que este é o momento do Brasil."

Ele sugere a organização de um portal na internet para que os talentos se tornem conhecidos e conectados a institutos de pesquisa e empresas por aqui. Também está interessado em abrir espaço para que cientistas estrangeiros possam passar um período nas universidades ou institutos brasileiros. Para isto, cita a necessidade de serem feitos "ajustes" na legislação.

"Não estou falando em mudar as regras dos concursos de docência, mas o primeiro requisito para uma universidade chamar um professor estrangeiro é que ele tem que dominar a língua. Mas, assim, vamos excluir muita gente."

Ministro quer usar estrutura do pré-sal e construir um laboratório em alto mar

Na semana passada o ministro Aloizio Mercadante teve reuniões com executivos da Petrobras e Braskem, com a Marinha e a ministra Izabella Teixeira do Meio Ambiente, com a comunidade científica e acadêmica para começar a dar corpo a um projeto ousado: construir um laboratório em alto mar para estudar as correntes marítimas, os impactos do aquecimento global, o solo, o fluxo de peixes, a biodiversidade marinha e o que mais for interessante a 500 km da costa brasileira.

"Não podemos ter o pré-sal como nossa única relação com o mar", diz ele. "Vamos dar grande prioridade a este projeto, que é inédito. Não existe no mundo nada semelhante."

Duas possibilidades estão em estudo. Uma delas é o governo adquirir o casco de um porta-aviões como o do célebre Minas Gerais que foi vendido como sucata, ao preço da tonelada de aço. A Petrobras poderia ancorá-lo no fundo do mar. A outra é aproveitar a casca de uma plataforma de petróleo. "Vamos colocá-lo no limite da nossa área na plataforma continental, lá na ponta", adianta Mercadante. "A intenção é fazer pesquisa lá no meio do oceano."

O ministro diz que a logística do pré-sal viabiliza a iniciativa e relativiza os custos porque o laboratório aproveitaria a estrutura de abastecimento, de locomoção e de suporte às plataformas, por exemplo. "Seria uma resposta muito inteligente que o Brasil estaria dando, de um país que quer ter responsabilidade ambiental além de usufruir das riquezas do mar."

Segundo ele, "a presidente [Dilma Rousseff] adorou a ideia" e "está muito comprometida com este projeto". O governo já está criando um grupo de trabalho para tocar o laboratório marinho. Mercadante concorda que há um contrasenso entre explorar as riquezas do pré-sal e alinhar o país em direção a uma economia descarbonizada.

"São dois movimentos", raciocina. "Há uma demanda crescente na economia mundial por gás e petróleo e há uma busca forte por novos combustíveis e energia renovável", começa, lembrando que o Brasil tem matriz energética limpa. "Mas o mundo precisa de petróleo e vai precisar por muito tempo ainda", prossegue.

O país, avalia, escapa da armadilha "se souber usar esta riqueza do pré-sal, que é uma janela de oportunidades". Como? "Não podemos usar os royalties do petróleo pulverizados com gasto corrente, mas focar em educação, ciência e tecnologia e meio ambiente para produzir uma sociedade do conhecimento e ter compromisso com as gerações futuras." (Daniela Chiaretti)

Fonte: Valor Econômico

Brasil: críticas fazem acordo científico bilionário cair à metade


No fim do mês de dezembro, o Ministério da Ciência e Tecnologia assinou um acordo de R$ 555 milhões para pesquisa em Astronomia com o ESO - Observatório Europeu do Sul. Válido por 11 anos, o convênio permite que o país participe da construção do futuro superobservatório E-ELT, de 42 m de altura, que deve ser inaugurado em 2021, no Chile.

Inicialmente orçado em R$ 1,24 bilhão, o projeto gerou polêmica entre a comunidade científica, além de duras críticas de vários astrônomos, que defendiam que o valor não deveria ser investido fora do Brasil.

"Dentro de qualquer comunidade, principalmente a comunidade científica, que tem recursos escassos, sempre existe uma ampla discussão, e até confrontos, com respeito a projetos de grande custo. Neste caso, os valores foram revisados para baixo, então a crítica de alguns pesquisadores foram úteis no sentido de tornar os valores mais acessíveis à comunidade cientifica. Foram muito importantes. Os críticos permitiram uma negociação no valor e o resultado foi benéfico", diz o professor membro do Instituto de Astronomia (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), Amâncio Friaça.

O Brasil é o primeiro país não-europeu a participar do ESO, que conta com outros 14 países e tem orçamento anual de 135 milhões de euros (R$ 295 milhões). Embora as instalações para a construção do telescópio estejam no Chile, o país serve apenas de abrigo, devido às melhores condições climáticas e geográficas para o estudo da Astronomia.

"Os europeus são aqueles que estão tomando a iniciativa em pesquisa fundamental. Então é importante que o Brasil tenha uma colaboração com eles. As criticas principais são a respeito dos valores envolvidos, mas no momento que você negocia algo mais razoável, você tem um retorno muito grande em uma escala de tempo de uma década, o que pra nós é rápido. Se você lembrar que o Brasil, dependendo da avaliação, é a nona ou décima economia do mundo, ele não pode mais negar recursos para projetos visionários, e quando eu falo visionários, quero dizer projetos de futuro em grande escala", opina Friaça.

De acordo com o docente, o projeto começou a ser negociado em 2009, quando o Brasil sediou a reunião da União Astronômica Internacional, no Rio de Janeiro. Desde então, o debate entre o que seria gasto e o que seria investimento tomou conta da comunidade da Astronomia.

"É importante saber que a gente precisa fazer economia, mas a gente precisa fazer investimento, ou seja, aplicação. Esse tipo de verba, bilionária, representa um investimento de suma importância pra o nosso futuro. Você tem que investir nas instituições do nível mais alto, para você ter um resultado rápido, como uma década. Pra nós, que fazemos pesquisa, 10 anos é um período pequeno, mas em uma década você muda um pais. E não adianta ficar investindo só no que você está acostumado a investir. Você tem que saber que o Brasil é uma economia poderosa e precisa fazer investimentos à altura. Todo gasto em Ciência é investimento, e eles são na casa de bilhões de dólares, não tem muito como fugir disso", completa.

Iniciativa destemida

"De fato, é uma iniciativa brasileira muito destemida, eu diria, porque, apesar de toda a redução de custos que nós conseguimos através das negociações realizadas, ainda assim é um custo bastante elevado", diz o chefe da assessoria de assuntos internacionais do Ministério de Ciência e Tecnologia, José Monserrat Filho.

"Em compensação, nós vamos ser co-proprietários de toda a infra-estrutura do ESO, principalmente a estrutura que já existe lá no Chile, que são pelo menos 3 conjuntos de observatórios, com telescópios de grande envergadura, além do novo observatório, o E-ELT (European Extremely Large Telescope)."

Na opinião de Monserrat, ser um dos donos do equipamento é apenas uma das vantagens do investimento. "Estaremos trabalhando na vanguarda em matéria de Astronomia. Ao mesmo tempo, esses centros e observatórios reúnem cientistas de varias áreas, e haverá um ganho científico para os astrônomos e para outras áreas da comunidade cientifica. Tudo indica que a pesquisa brasileira deve crescer muito".

A geração de renda e emprego é mais um dos pontos positivos, pois segundo Monserrat, a construção do observatório demandará o trabalho de diferentes áreas empresariais. "A participação da indústria brasileira será muito importante. Nosso país, que está aqui perto do Chile e é o maior centro industrial do continente, terá mais facilidades e mais competitividade para concorrer e, em boa parte, ganhar as licitações", diz.

O acordo ainda precisa passar pelo Congresso, mas já está mobilizando a comunidade cientifica e as entidades representativas do setor industrial, que de acordo com o representante do Ministério da Ciência e Tecnologia, devem ser convidadas em breve a visitar as instalações no Chile.

"Isso é para que sintam o potencial de trabalho que se tem a fazer lá. Outra coisa que já estamos estudando com o ESO é a organização de estágios para jovens, visitas até do ensino médio, passando pela graduação e doutorado. Ou seja, o Brasil tem muita coisa a fazer para aproveitar essa oportunidade", conclui.
(Angela Joenck Pinto)

Fonte: Terra

Dilma e presidente ucraniano conversam sobre continuidade de foguete binacional

A presidente Dilma Rousseff recebeu, na manhã desta segunda-feira (10/1), um telefonema do presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich.

Nos cerca de 20 minutos de conversa, Dilma e o ucraniano falaram, especialmente, sobre a continuidade da parceria entre os dois países na empresa binacional ACS (Alcântara Cyclone Space).

Pelo tratado entre os dois países, assinado em outubro de 2003, no início do governo Lula, a Base de Alcântara, no Maranhão, passou a ser usada como base de operações para o lançamento do foguete Cyclone-4, um lançador de satélites ucraniano.

O gasto brasileiro no projeto, inicialmente estimado em R$ 100 milhões, pode chegar a R$ 1 bilhão, conforme revelou a "Folha" em setembro de 2010. O foguete ainda não está pronto, assim como o sítio de lançamento em Alcântara.

Yanukovich manifestou interesse em vir ao Brasil em maio. O ucraniano também cumprimentou Dilma pela posse e a convidou para visitar a Ucrânia, sem uma data definida. O Brasil tem a terceira maior comunidade ucraniana do mundo. (Breno Costa)

Fonte: Folha.com

Decreto controla gastos dos ministérios enquanto Orçamento não é sancionado


O Poder Executivo baixou um decreto para controlar os gastos dos ministérios nos primeiros dias de governo, enquanto o Orçamento de 2011 não é sancionado pela presidente Dilma Rousseff. No decreto, foi fixado um gasto mensal de R$ 2,9 bilhões como teto para despesas correntes de caráter inadiável.

Fora essas despesas, o governo poderá gastar com obrigações constitucionais ou legais da União; bolsas de estudo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); pagamento de estagiários e de contratações temporárias; ações de prevenção a desastres; formação de estoques públicos; e importação de bens para pesquisa científica.

Cortes

Os cortes definitivos no Orçamento de 2011 poderão chegar a R$ 30 bilhões e também serão definidos por decreto após a sanção do Orçamento, ainda sem prazo definido.

Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o que há de concreto é apenas a determinação de cortes nos gastos de todos os ministérios.

"Não há um número definido do tamanho do contingenciamento. Vamos analisar, em cada ministério, os seus projetos e a maximização do uso do dinheiro. Vamos reduzir, certamente, gastos com passagens e diárias, por exemplo, e com contratação de serviços. Será feita uma triagem e os projetos prioritários continuarão; os menos prioritários poderão ser postergados. O fato é que deverá haver uma redução considerável de gastos neste ano."

Mantega argumenta que esse corte qualitativo, a partir da realidade de cada ministério, é mais racional do que uma redução linear nos gastos do governo.

Fonte: Agência Câmara