Heitor Scalambrini
Costa
Professor da
Universidade Federal de Pernambuco
No dicionário, uma das definições
para a palavra inócua é “aquilo que não tem a força de produzir o efeito que se
pretendia”. Inócua foi à passagem, tipo trampolim, do jornalista Sergio Xavier
como Secretário de Meio Ambiente de Pernambuco e agora pré-candidato a deputado
estadual. Recapitulemos brevemente essa passagem. E esse pretendido trampolim.
Sergio Xavier, ex-presidente do
partido Verde e um dos mais enérgicos críticos do “modus operandi”, tipo
predador, do governador do Estado com relação à implantação do Complexo de
Suape, ao que chegou a chamar de “mangue brita”, acusava o governo de cobrir de
concreto os manguezais do território do Complexo, o que estava coberto de
razão.
Em 2010, esse crítico ferrenho do
governo, usava o twitter e outras ferramentas das redes sociais para atacar o
Complexo de Suape como “mito do crescimento a todo custo”, denunciando que o
histórico de Suape mostrava que as prometidas compensações socioambientais
nunca foram realizadas, e apontando a falta total de transparência do governo.
“Indignado” com a aprovação de lei n° 1496/2010, que autorizava a supressão de
vegetação nativa de Suape, tuitava: “Mangue não é moeda de barganha política!
Deputados desconsideram parecer contrário da comissão de meio ambiente”, e “Governo
que, de repente, muda o desmatamento de mangues de 893 para 508 hectares, sem
estudos, não merece crédito”.
Esta postura o credenciou a ser
um dos candidatos de oposição ao governo do Estado, mantendo, durante toda a
campanha, o tom crítico em relação ao governador que tentava a reeleição.
Findo o processo eleitoral, e nem
bem terminada a contagem de votos, surge na imprensa boatos que se tornariam
realidade logo depois. Aquele crítico ferrenho do governador (agora reeleito)
tinha sido convidado a se tornar Secretário de Estado. Ou seja, Sergio Xavier
teria uma secretaria que poderia chamar de sua: a ex-Secretaria de Meio
Ambiente, que passaria a se chamar Secretaria de Meio Ambiente e
Sustentabilidade, de cujo quadro de pessoal se tornaria “chefe” – logo ele, até
então Verde e crítico do governo na área ambiental.
Obviamente essa mudança repentina
de discurso e de ideias trouxe certo constrangimento ao nosso personagem, pois,
com seu discurso crítico no período eleitoral, recebeu uma “enxurrada” de votos
para governador. Para contornar essa situação, procurou o aval de alguns (dos
mais representativos e históricos) movimentos ambientalistas do Estado, uma vez
que agora se tornaria empregado daquele que tanto criticara. Incompreensível e
equivocadamente tais organizações o apoiaram, lançando um manifesto. E ele se
comprometeu, junto às organizações que o apoiaram, a cumprir 15 pontos de
políticas direcionadas a sustentabilidade.
Com o respaldo dessas
organizações, assumiu o cargo de Secretário. E, como todos que acham que podem
enganar a população o tempo todo, começou a lançar “factoides” de suas ações na
mídia, além de se tornar um dos mais entusiastas defensores do governador,
tornando-se, como se denomina nestas plagas, um “eduardista de carteirinha”.
À frente da Secretaria (e não da
Agência de Meio Ambiente, que faz parte da Secretaria, e que realmente tem
poder), o seu discurso defendia a necessidade do “desenvolvimento sustentável”,
mal explicado, pois poucos sabem o que realmente vem a ser, mas todos concordam
por ser “politicamente correto”.
As ações (muito poucas)
desenvolvidas em sua gestão na área ambiental incluem: o “factoide” da
introdução de carros elétricos no Estado; a disponibilização de 20 bicicletas
elétricas compartilhadas, em Fernando de Noronha; a criação de áreas de
conservação e proteção, que ainda precisam ser efetivamente fiscalizadas e
protegidas pelo Estado; e as promessas de uso da tecnologia de informação para
monitoramento, controle e fiscalização no setor ambiental, e de reflorestamento
da Mata Atlântica de Suape. Estas poucas
ações e promessas (somente promessas até agora), sem dúvida, não deixarão
lembranças de sua inócua passagem à frente da Secretaria de Meio Ambiente e
Sustentabilidade.
Triste fim de sua jornada como
Secretário. Aquele que um dia recebeu os votos e a confiança dos ambientalistas
e demais defensores do meio ambiente para garantir em Pernambuco um
desenvolvimento econômico com proteção efetiva do meio ambiente e dos direitos
das populações afetadas enganou a todos. Por pouco tempo, felizmente!
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